Basta abrirmos as páginas dos
Evangelhos para podermos contemplar Jesus de Nazaré que, movido pelo
amor misericordioso e pela paixão libertadora, cura e arranca tantas
pessoas do poder destruidor do mal. Deste modo, Jesus torna palpável a
proximidade misericordiosa de Deus.
É com Aquele de quem somos discípulos que queremos aprender a ser solícitos para com os doentes (cf. v.g. Mt 9,12) e a tomar medidas proativas na pastoral da saúde. Tal como Jesus, que luta contra as doenças de forma original, ao cuidarmos da saúde pública, passamos a fazer o bem. E, segundo a nossa longa tradição, tudo faremos, na medida das capacidades e da solidariedade possível, segundo a evolução das ciências médicas e a prática da medicina, quer pela prevenção das doenças, quer pela cura dos enfermos e, bem assim, apoiar quem deles cuida. A qualidade de uma comunidade afere-se por este cuidado.
Sempre rumo à Páscoa
O dom da vida tem um valor inviolável. Temos o dever de a proteger, a nossa e a dos outros. É pecado grave atentar contra ela e, por isso, em momentos de epidemia, compete ao cristão sacrificar tudo para a defender. A festa da Páscoa, vitória da vida sobre a morte, é oportunidade para interiorizarmos os compromissos que daqui advêm.
1. Conhecedores da situação atual e interessados na contenção do coronavírus, cabe-nos lutar arduamente contra todas as fontes possíveis de contágio. Não obstante as contingências, que não nos dispensam de viver a Quaresma, preparamo-nos para a celebração da Páscoa. É a nossa festa maior: «o centro de todo o ano litúrgico» (MR, p.1382). Jesus pediu que a celebrássemos em Sua memória. Aliás, «a Igreja sempre entendeu que esta ordem lhe dizia respeito e, por isso, foi estabelecendo normas para a celebração da santíssima Eucaristia, no que se refere às disposições da alma, aos lugares, aos ritos e aos textos» (IGMR, 1).
Orientações da OMS e DGS
2. Porque o bispo da Diocese tem, entre outros serviços, a moderação da vida litúrgica e a promoção da atividade apostólica nas suas comunidades, peço a todos e, nomeadamente, aos responsáveis destas – padres, religiosos e leigos – que observem, seriamente e com solicitude ética, as indicações aqui assinaladas, bem como outras amplamente divulgadas, quer pela Organização Mundial de Saúde (OMS), quer pela Direção-Geral da Saúde (DGS). A evolução da situação poderá determinar medidas excecionais. Se necessárias, disponhamo-nos a adotá-las, de forma a evitar o contágio nas reuniões do povo de Deus, inclusive nas assembleias litúrgicas.
Atenção aos idosos e crianças
3. Os grupos de maior risco – crianças e idosos – merecem uma atenção redobrada. Neste sentido, peço que se observem todas as recomendações do Ministério da Saúde relativas aos Centros de Dia e Lares de Idosos. As visitas devem ser evitadas, ou mesmo restritas, assim como um cuidado atento aos processos de higienização pessoal e desinfeção dos espaços. Ao mesmo tempo, acompanhe-se de perto as recomendações e decisões do Estado relativas às escolas e colégios. Sobretudo nas áreas mais afetadas, e nas quais se determina o encerramento dos estabelecimentos de ensino, é obrigatória a suspensão da catequese e atividades dos grupos de jovens.
Algumas orientações pastorais
4. A fim de concretizar esta luta contra a propagação do coronavírus, no que diz respeito mais diretamente à vida litúrgica, peço:
a) Apliquem-se as indicações já fornecidas pela Conferência Episcopal Portuguesa (02.03.2020): “Como em situações semelhantes (…) recomendamos algumas medidas de prudência nas celebrações e espaços litúrgicos, como, por exemplo, a comunhão na mão, a comunhão por intinção dos sacerdotes concelebrantes, a omissão do gesto da paz e o não uso da água nas pias de água benta”;
b) Durante as celebrações do Tríduo Pascal, procure-se evitar todo o tipo de contacto que possa servir de transmissão: a veneração da cruz na celebração da Paixão do Senhor, por exemplo, far-se-á com a inclinação profunda, ou com a genuflexão. Além disso, tal momento pode ser acompanhado com cânticos ou com a leitura de textos apropriados.
c) Na Vigília Pascal e no Domingo de Páscoa, não deve apresentar-se, como é costume, a cruz com o Ressuscitado, para o beijo ou saudação com o toque da mão.
d) No Domingo de Páscoa, na segunda-feira de Páscoa ou no Domingo de Pascoela, o “Compasso” ou “Visita Pascal”, mesmo tendo presente a enraizada tradição das comunidades da nossa região, não se irá realizar.
Cada família, no aconchego do seu lar, deve encontrar modos festivos de celebrar este dia especial. A família, como “Igreja doméstica”, saberá viver este momento como verdadeiro encontro com o Ressuscitado. A Páscoa, sem desconsiderar a vertente comunitária, teve sempre um cunho familiar inconfundível. Pedimos, por isso, aos párocos que preparem subsídios pastorais que ajudem as famílias a viverem a Páscoa nesta situação excecional.
e) No momento presente, não nos parece conveniente pensar na suspensão das eucaristias dominicais. Sendo necessário, não deixaremos de o fazer. Em última circunstância, pode recorrer-se às novas tecnologias, tal como acompanhar a eucaristia através da televisão, internet ou da rádio.
f) Aos párocos solicitamos e aconselhamos que, com o Conselho Pastoral, decidam se as habituais confissões em tempo quaresmal não deverão acontecer antes em tempo posterior, após este surto epidémico ser superado. Ciente que “a confissão individual e íntegra e a absolvição constituem o único modo ordinário pelo qual o fiel, consciente de pecado grave, se reconcilia com Deus e com a Igreja” (CDC, can. 960), não posso deixar de exercer também aqui a minha missão de Pastor no exercício daquelas funções que me são atribuídas pelo Código de Direito Canónico (can. 961, §2), em particular, naquela competência de avaliar a “necessidade grave” que justifique a absolvição geral sem confissão individual dos pecados, sem prejuízo de quanto se refere na Instrução Pastoral, o Ministério da Reconciliação, da Conferência Episcopal de 2001.
Aqueles sacerdotes que optarem por este modo de celebração, conforme as recomendações do Ritual, sintam-se comprometidos em esclarecer os fiéis acerca de alguns requisitos essenciais para a celebração do sacramento nesta fórmula C, particularmente, que os penitentes se “arrependam dos pecados cometidos” e façam o “propósito de não mais pecar”, que se proponham “reparar os escândalos” e danos que, porventura, tiverem causado e confessem, “em devido tempo, cada um dos pecados graves que não podem confessar agora” (Cf. Ritual da Celebração da Penitência, 60). Reafirmamos que há o dever da confissão, por ocasião da Páscoa, e que esta confissão deve ser individual, a não ser que circunstâncias excecionais justifiquem o recurso às chamadas “absolvições coletivas”, tendo sempre presente as recomendações da DGS.
Encontramo-nos numa situação extraordinária e, nesse sentido, tenho a missão de providenciar que tanto os presbíteros como os fiéis procedam corretamente para evitar qualquer hipótese de contágio (Cf. Nota pastoral O Sacramento da Reconciliação na Vida da Igreja (2008). Neste sentido, aconselhamos os sacerdotes a evitarem as confissões, enquanto esta situação de epidemia se mantiver, elucidando os fiéis sobre a excecionalidade deste tempo e as medidas adotadas.
Tudo o que escrevemos neste momento está sujeito a ser ajustado em função da evolução da propagação do coronavírus. Sem alarmes infundados, mas com esforço redobrado, tudo faremos para que se reduza o impacto deste problema de saúde pública. Estamos persuadidos de que, com estas e outras eventuais medidas, o conseguiremos mais facilmente. Apelo à sensibilidade e sentido de corresponsabilidade, juntando o esforço pessoal e comunitário ao trabalho das instituições públicas e eclesiais, ou outras.
A todo este empenho juntemos a oração. Rezemos ao Senhor, que, por mediação da Sua e nossa Mãe, se compadeceu de todos os frágeis e doentes, para que dê alívio e cure todos os infetados, anime os que deles cuidam, ajude os investigadores a encontrar os meios de cura, e a todos nos dê saúde e sensibilidade para o cuidado compassivo dos enfermos e para evitar que a doença se espalhe.
Oração
Senhor Jesus, Salvador do mundo,
esperança que não conhece a desilusão,
tem piedade de nós e livra-nos do mal!
A Ti imploramos a vitória
sobre o flagelo deste vírus que se está a difundir,
a cura dos doentes,
a proteção dos que estão sãos,
o auxílio para quem presta cuidados de saúde.
Mostra-nos o Teu Rosto de Misericórdia
e salva-nos com o Teu grande amor.
Tudo isto te pedimos por intercessão de Maria,
Tua e nossa Mãe, que fielmente nos acompanha!
Tu que vives e reinas pelos séculos dos séculos. Amen!
(† Bruno Forte)
Braga, 12 de março de 2020
† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz
É com Aquele de quem somos discípulos que queremos aprender a ser solícitos para com os doentes (cf. v.g. Mt 9,12) e a tomar medidas proativas na pastoral da saúde. Tal como Jesus, que luta contra as doenças de forma original, ao cuidarmos da saúde pública, passamos a fazer o bem. E, segundo a nossa longa tradição, tudo faremos, na medida das capacidades e da solidariedade possível, segundo a evolução das ciências médicas e a prática da medicina, quer pela prevenção das doenças, quer pela cura dos enfermos e, bem assim, apoiar quem deles cuida. A qualidade de uma comunidade afere-se por este cuidado.
Sempre rumo à Páscoa
O dom da vida tem um valor inviolável. Temos o dever de a proteger, a nossa e a dos outros. É pecado grave atentar contra ela e, por isso, em momentos de epidemia, compete ao cristão sacrificar tudo para a defender. A festa da Páscoa, vitória da vida sobre a morte, é oportunidade para interiorizarmos os compromissos que daqui advêm.
1. Conhecedores da situação atual e interessados na contenção do coronavírus, cabe-nos lutar arduamente contra todas as fontes possíveis de contágio. Não obstante as contingências, que não nos dispensam de viver a Quaresma, preparamo-nos para a celebração da Páscoa. É a nossa festa maior: «o centro de todo o ano litúrgico» (MR, p.1382). Jesus pediu que a celebrássemos em Sua memória. Aliás, «a Igreja sempre entendeu que esta ordem lhe dizia respeito e, por isso, foi estabelecendo normas para a celebração da santíssima Eucaristia, no que se refere às disposições da alma, aos lugares, aos ritos e aos textos» (IGMR, 1).
Orientações da OMS e DGS
2. Porque o bispo da Diocese tem, entre outros serviços, a moderação da vida litúrgica e a promoção da atividade apostólica nas suas comunidades, peço a todos e, nomeadamente, aos responsáveis destas – padres, religiosos e leigos – que observem, seriamente e com solicitude ética, as indicações aqui assinaladas, bem como outras amplamente divulgadas, quer pela Organização Mundial de Saúde (OMS), quer pela Direção-Geral da Saúde (DGS). A evolução da situação poderá determinar medidas excecionais. Se necessárias, disponhamo-nos a adotá-las, de forma a evitar o contágio nas reuniões do povo de Deus, inclusive nas assembleias litúrgicas.
Atenção aos idosos e crianças
3. Os grupos de maior risco – crianças e idosos – merecem uma atenção redobrada. Neste sentido, peço que se observem todas as recomendações do Ministério da Saúde relativas aos Centros de Dia e Lares de Idosos. As visitas devem ser evitadas, ou mesmo restritas, assim como um cuidado atento aos processos de higienização pessoal e desinfeção dos espaços. Ao mesmo tempo, acompanhe-se de perto as recomendações e decisões do Estado relativas às escolas e colégios. Sobretudo nas áreas mais afetadas, e nas quais se determina o encerramento dos estabelecimentos de ensino, é obrigatória a suspensão da catequese e atividades dos grupos de jovens.
Algumas orientações pastorais
4. A fim de concretizar esta luta contra a propagação do coronavírus, no que diz respeito mais diretamente à vida litúrgica, peço:
a) Apliquem-se as indicações já fornecidas pela Conferência Episcopal Portuguesa (02.03.2020): “Como em situações semelhantes (…) recomendamos algumas medidas de prudência nas celebrações e espaços litúrgicos, como, por exemplo, a comunhão na mão, a comunhão por intinção dos sacerdotes concelebrantes, a omissão do gesto da paz e o não uso da água nas pias de água benta”;
b) Durante as celebrações do Tríduo Pascal, procure-se evitar todo o tipo de contacto que possa servir de transmissão: a veneração da cruz na celebração da Paixão do Senhor, por exemplo, far-se-á com a inclinação profunda, ou com a genuflexão. Além disso, tal momento pode ser acompanhado com cânticos ou com a leitura de textos apropriados.
c) Na Vigília Pascal e no Domingo de Páscoa, não deve apresentar-se, como é costume, a cruz com o Ressuscitado, para o beijo ou saudação com o toque da mão.
d) No Domingo de Páscoa, na segunda-feira de Páscoa ou no Domingo de Pascoela, o “Compasso” ou “Visita Pascal”, mesmo tendo presente a enraizada tradição das comunidades da nossa região, não se irá realizar.
Cada família, no aconchego do seu lar, deve encontrar modos festivos de celebrar este dia especial. A família, como “Igreja doméstica”, saberá viver este momento como verdadeiro encontro com o Ressuscitado. A Páscoa, sem desconsiderar a vertente comunitária, teve sempre um cunho familiar inconfundível. Pedimos, por isso, aos párocos que preparem subsídios pastorais que ajudem as famílias a viverem a Páscoa nesta situação excecional.
e) No momento presente, não nos parece conveniente pensar na suspensão das eucaristias dominicais. Sendo necessário, não deixaremos de o fazer. Em última circunstância, pode recorrer-se às novas tecnologias, tal como acompanhar a eucaristia através da televisão, internet ou da rádio.
f) Aos párocos solicitamos e aconselhamos que, com o Conselho Pastoral, decidam se as habituais confissões em tempo quaresmal não deverão acontecer antes em tempo posterior, após este surto epidémico ser superado. Ciente que “a confissão individual e íntegra e a absolvição constituem o único modo ordinário pelo qual o fiel, consciente de pecado grave, se reconcilia com Deus e com a Igreja” (CDC, can. 960), não posso deixar de exercer também aqui a minha missão de Pastor no exercício daquelas funções que me são atribuídas pelo Código de Direito Canónico (can. 961, §2), em particular, naquela competência de avaliar a “necessidade grave” que justifique a absolvição geral sem confissão individual dos pecados, sem prejuízo de quanto se refere na Instrução Pastoral, o Ministério da Reconciliação, da Conferência Episcopal de 2001.
Aqueles sacerdotes que optarem por este modo de celebração, conforme as recomendações do Ritual, sintam-se comprometidos em esclarecer os fiéis acerca de alguns requisitos essenciais para a celebração do sacramento nesta fórmula C, particularmente, que os penitentes se “arrependam dos pecados cometidos” e façam o “propósito de não mais pecar”, que se proponham “reparar os escândalos” e danos que, porventura, tiverem causado e confessem, “em devido tempo, cada um dos pecados graves que não podem confessar agora” (Cf. Ritual da Celebração da Penitência, 60). Reafirmamos que há o dever da confissão, por ocasião da Páscoa, e que esta confissão deve ser individual, a não ser que circunstâncias excecionais justifiquem o recurso às chamadas “absolvições coletivas”, tendo sempre presente as recomendações da DGS.
Encontramo-nos numa situação extraordinária e, nesse sentido, tenho a missão de providenciar que tanto os presbíteros como os fiéis procedam corretamente para evitar qualquer hipótese de contágio (Cf. Nota pastoral O Sacramento da Reconciliação na Vida da Igreja (2008). Neste sentido, aconselhamos os sacerdotes a evitarem as confissões, enquanto esta situação de epidemia se mantiver, elucidando os fiéis sobre a excecionalidade deste tempo e as medidas adotadas.
Tudo o que escrevemos neste momento está sujeito a ser ajustado em função da evolução da propagação do coronavírus. Sem alarmes infundados, mas com esforço redobrado, tudo faremos para que se reduza o impacto deste problema de saúde pública. Estamos persuadidos de que, com estas e outras eventuais medidas, o conseguiremos mais facilmente. Apelo à sensibilidade e sentido de corresponsabilidade, juntando o esforço pessoal e comunitário ao trabalho das instituições públicas e eclesiais, ou outras.
A todo este empenho juntemos a oração. Rezemos ao Senhor, que, por mediação da Sua e nossa Mãe, se compadeceu de todos os frágeis e doentes, para que dê alívio e cure todos os infetados, anime os que deles cuidam, ajude os investigadores a encontrar os meios de cura, e a todos nos dê saúde e sensibilidade para o cuidado compassivo dos enfermos e para evitar que a doença se espalhe.
Oração
Senhor Jesus, Salvador do mundo,
esperança que não conhece a desilusão,
tem piedade de nós e livra-nos do mal!
A Ti imploramos a vitória
sobre o flagelo deste vírus que se está a difundir,
a cura dos doentes,
a proteção dos que estão sãos,
o auxílio para quem presta cuidados de saúde.
Mostra-nos o Teu Rosto de Misericórdia
e salva-nos com o Teu grande amor.
Tudo isto te pedimos por intercessão de Maria,
Tua e nossa Mãe, que fielmente nos acompanha!
Tu que vives e reinas pelos séculos dos séculos. Amen!
(† Bruno Forte)
Braga, 12 de março de 2020
† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz